top of page

Safo de Lesbos, a décima Musa.

  • Rodrigo Vinícius
  • 5 de fev. de 2017
  • 3 min de leitura

“Eros sacudiu o meu coração, como um vento que, descendo a montanha, se lança sobre os carvalhos.”, Safo de Lesbos. A melodia poética de Safo é o sopro candente a tremer o coração sensível que ama. De coração para coração disse Alceu, poeta, amigo da poetisa:


“Pura Safo, do sorriso de mel e tranças de violetas.”


A beleza de Safo de Lesbos, a décima musa, como disse Platão, força amorosa que desceu com suas águas sagradas no século VII antes de Cristo, uma das mulheres mais extraordinárias que o mundo já conheceu, havia feito Sócrates chamá-la de – A bela. Em Metilene, Safo montou uma escola para moças, onde lecionava poesia, dança e música, às suas hetairai, ou seja, amigas. Considerada uma das grandes poetisas do lirismo a obra de Safo infelizmente nos chegou apenas em esparsos fragmentos, constando de um punhado, que são, contudo, como um feixe de flores selvagens. Chamada de Musa, Safo foi alçada ao apogeu representando a força de ser que fecundava, inundava o coração de poesia e beleza. Seria ela como que irmã de Calíope (a de bela voz; regia a eloquência), Clio (a proclamadora; regia a história), Erato (amável; regia a poesia lírica), Euterpe (doadora de prazeres; regia a música), Melpômene (a poetisa; regia a Tragédia), Polímnia (a de muitos hinos; regia a música cerimonial), Tália (a que faz brotar flores; regia a Comédia), Terpsícore (a rodopiante; regia a dança) e por fim Urânia (a celestial; regia a astronomia e astrologia). Safo foi um sopro de alegria e renovação na Grécia antiga. Alguns trechos de sua obra, alguns frutos do seu jardim:


“O seu coração arrefece e deixam tombar as asas.” (fr. 13 D).


Um coração que declina como uma pétala de flor a fenecer no campo, o amor tem em Safo um aspecto trágico, uma nuance de luta, uma iluminação.


“Mãe querida, já não tenho força para mover a agulha no bastidor, ferida como estou de amor por um jovem... e a culpa é de Afrodite.” (fr. 114 D).


E uma mulher sensível, uma mulher com força avassaladora – semelhante ao tufão que treme o carvalho, Safo se vê insone a contemplar o céu.


“Pôs-se a Lua, deitaram-se as Plêiades. Está a meio noite e o tempo passa. E eu sozinha estou deitada.” (fr. 94 D).


Então vem o sono como um corcel alado e negro, conduzindo-a ao reino do sonho.


“Ó sonho, tu vens negra... quando o sono... deus de doçura, me liberta do peso dos cuidados... Mas tenho a esperança de não participar... nada... dos deuses... pois eu não seria tão... belos adornos... Seja-me dado... (fr.67 D).


A poetisa como todo ser humano encontrou o mistério de ser si mesma no turbilhão confuso da mente.


“Não sei o que fazer: sinto duas almas em mim...” (fr. 45 R-P).


Safo é inspiração fundamental nos tempos que correm. Foi poetisa, amante, mestra, mãe e soube doar-se na chama augusta da vida, vivendo o ordinário e o extraordinário.


“Aquela que me gerou (costumava dizer) que, na sua juventude, se considerava um grande ornamento atar as tranças com uma fita de púrpura. Mas, se uma jovem tem cabelos mais amarelos do que um archote, será melhor enfeitá-los com uma coroa vívida de flores. Entretanto a moda agora [são] as mitras variegadas de Sardes... Para ti, Cleide, não tenho nem sei onde ir buscar uma mitra....” (fr. 98 ab P).


O perfil desta mulher ainda hoje é delineado por sombras, afinal pouco nos ficou de sua biografia e obra. Não podemos, porém negar que a faísca de sua claridade que varre a noite do espírito traz consigo o calor e a claridade de um sol amoroso. Safo foi uma Musa. Ela é também o potencial do feminino dentro de cada um de nós.



Rodrigo Vinícius

Graduando em Letras Clássicas pela UFPB

rodrigovs_8@hotmail.com


 
 
 

Comments


bottom of page