Terêncio, "Sou homem..."
- Rodrigo Vinícius
- 19 de fev. de 2017
- 2 min de leitura

“Homo sum: nihil humani a me alienum puto.” “Sou homem: nada do que é humano considero alheio a mim”, diz Terêncio, poeta, orador romano, nascido na magnífica Cartago. Tal dito, segundo Sêneca, deve estar – in pectore et in ore –, “no coração e na boca.” Essa máxima, retomada na idade média, por João de Salisbury, pensador católico, clamava por conduzir o homem a solidariedade. Não apenas para lembrar, mas fundamentalmente para resgatar a humanidade do homem que vagabundeia confuso entre o animal e a máquina.
Basta um olhar atento para observarmos a constante desumanização do ser humano. O longo curso da história tem registrado uma constante violação da natureza, destruição do homem pelo próprio homem, que levou o filósofo inglês Thomas Hobbes a resgatar Plauto, dramaturgo romano, com a sentença – “Homo homini lupus” – “o homem é lobo do homem.”.
Mas Terêncio nos alerta, “Tu si hic sis, aliter sentias” – “Se estivesses no lugar dele, pensarias de modo diferente.”. Sócrates, o sábio grego, já havia observado que o homem faz o que julga ser bom dentro do seu ponto de vista, frequentemente o ponto de vista do ego. De modo que cada homem carrega em si uma constelação de claridades e obscuridades, uma gruta de pedras brutas e diamantes em potencial. Em suma – um microcosmo.
Vejamos um pouco essa constelação. Cecílio, o dramaturgo romano disse – “Homo homini deus” – “O homem é deus para o homem” – ou seja, afirmando que o homem que contribui para o crescimento do outro é divino. Libânio, o filósofo grego, dizia que essa capacidade de coparticipar na criação da realidade coletiva, portanto, participando para a felicidade do outro – é o que distingue o homem das feras. E ainda encontraremos em Plínio, - “deus est mortali iuvare mortalem, et haec ad aeternam gloriam via” – “é divino para o mortal ajudar outro mortal, e esse é caminho para a glória eterna.” Em Plínio é significativo que ele diz ajudar outro mortal, não apenas o humano, mas o mortal, abarcando os animais e as plantas, ou seja, o planeta terra. E Plínio ainda dirá que – “Virtutes habet abunde qui alienas amat” – “Tem virtudes em abundância aquele que ama as virtudes alheias.”. Esse pensamento é compartilhado por João Crisóstomo, um dos patronos do cristianismo, ao dizer – “Quem honra os outros honra a si mesmo.”. Cultivar a si é cultivar o outro. Um dos pontos fundamentais do humanismo é o olhar que trata de alargar o horizonte humano, transformando-o em sol. Não do ponto de vista do egocentrismo, mas, sim, do auto-referente como centro irradiador de alegria, felicidade, sabedoria e amor. Cada ser humano como uma semente, cada ser humano como uma flor do jardim a desabrochar numa dialética individual e coletiva, uma dança de formas, diversidade, aroma. Por isso o poeta John Donne disse – “no man is an island” – “nenhum homem é uma ilha...”. Temos que lembrar como diz Guimarães Rosa, de que “é de fenômenos sutis que estamos tratando.”. A sutileza de despir-se das máscaras e descobrir a si mesmo. Que possamos enquanto humanidade despertar para a graça que habita dentro de cada um de nós.
Rodrigo Vinícius
Graduando em Letras Clássicas pela UFPB
rodrigovs_8@hotmail.com
Comments